Fire and Fury - Capítulo 1.5


Capítulo 1.5

 

v Ano X797 - Terra do Norte.

Uma luz começou a incomodar seus olhos, o incômodo então o fez levantar a mão e colocar a frente da luz. Após alguns poucos instantes se acostumando, David se sentiu estranhamente confortável e bem, o levando a se questionar onde estava.

De imediato suas memórias retornaram de uma única vez, o fazendo abrir os olhos e se levantar em um salto. Mas o ambiente que David via era diferente do que se lembrava. Ele estava em um quarto claro, com várias janelas e algumas camas de ferro espalhadas pelo lugar.

– “A enfermaria?” – O lugar era conhecido pelo jovem, ele já tinha ido parar ali algumas vezes, mas sua principal dúvida era como ele havia chegado ali. Ainda confuso e desorientado, David tentou buscar em sua memória os momentos após ver seu pai cair desmaiado a sua frente, mas nada veio a sua mente, não importava o quanto ele se forçasse.

Foi então quando ele ouviu uma voz ao fundo chamando a sua atenção e o fez olhar para a porta rapidamente.

– “Finalmente acordou, David.”

– “Leone?” – Não precisou de mais que um olhar para David reconhecer o amigo. Um rapaz que aparentava ter por volta de 16 anos de idade, um pouco mais alto que David, tinha olhos castanhos amarelados e cabelos escuros com as pontas em loiro bem escuro espetados para cima e com uma faixa quadriculada na testa. Ele tinha uma expressão de sempre estar irritado com algo mesmo que não estivesse. – “Você está bem?” – Perguntou o rapaz.

 “Bem... eu acho que sim!” – Respondeu David ainda com os pensamentos vagos.

 – “Leone, o que aconteceu? E como eu vim parar aqui?” – Perguntou bruscamente.

– “Não se lembra de nada? – Leone perguntou como se tivesse sido pego de surpresa pela pergunta.

– “Não, eu...” – David fez uma parada rápida para organizar as palavras. – “Eu me lembro de algumas coisas, mas não de tudo.”

– “Tudo bem, vamos com calma.” – Disse Leone tentando acalmar os ânimos de David que então respirou fundo e se sentou na cama para conversar. Antes de iniciar a conversa Leone se sentou em uma cama que ficava próxima a de David, respirou fundo e começou a falar.

– “Bem, por onde eu começo...” – O rapaz pareceu confuso por um instante. – “Encontramos você desmaiado na floresta bem distante daqui, em um lugar que parecia uma mansão ou algo do tipo e haviam vários soldados Hunters caídos por toda parte. Se lembra de como foi parar lá?”

– “Sim, era o quartel general dos Hunters, eu segui eles depois da batalha.” – David respondeu.

– “Você os seguiu?” – Leone ressaltou um pouco surpreso, David não era do tipo de pessoa que pensava bem nas consequências de seus atos, mas aquilo era imprudência demais até mesmo para ele. – “Por que se arriscou tanto?” – Perguntou intrigado.

– “Quando eu cheguei no campo de batalha não encontrei meu pai em lugar nenhum. Eu o procurei por toda parte, mas não o encontrei, então pensei que podia ter sido capturado e segui os Hunters pela floresta até aquele lugar...” – Enquanto fazia sua explicação, David sentiu falta do seu pai e rapidamente mudou de assunto. – “Mais importante que isso, onde está o meu pai, vocês o encontraram?”

Antes de responder Leone respirou fundo, então respondeu com uma pergunta. – “David, você sabe como te encontramos naquela floresta?” – A pergunta intrigou o rapaz, não era aquilo que ele queria saber, mas também o deixou curioso, afinal ele seguiu os Hunters por horas antes de chegar ao esconderijo.”

– “Um raio enorme caiu bem no lugar onde o encontramos. Não havia mais nada por perto, além de uma construção derrubada e vários corpos.”

Ao ouvir aquilo, a reação de David foi simples e direta: ele apenas arregalou os olhos como se não acreditasse no que ouviu.

– “Então ele... está morto?” – David perguntou sem expressão.

– “Não temos certeza, não encontramos seu corpo em lugar nenhum.” – Respondeu Leone. Mesmo que a resposta fosse vaga, ela foi o suficiente para fazer o coração de David se acalmar um pouco.”

– “Mas vocês procuraram direito?” – David exigiu saber.

– “Sim.”

  Tem certeza? Talvez ainda tenha lugares para procurar.” – Disse o rapaz com alguma esperança.

– “David, você está dormindo a três dias. E passamos boa parte desse tempo examinando a área. Não tem mais nada lá!” – Disse Leone com um olhar mais escuro.

Após ouvir aquelas palavras, David fez um silêncio pensativo por um tempo, percebendo que o que Leone dizia era verdade, pelo que se lembrava ele havia ganhado alguns arranhões nas mãos e braços na luta contra o Mestre Hunter, mas agora estavam praticamente cicatrizados.

– “Encontramos você desmaiado e isto estava perto de você. Por sorte eu peguei antes que os outros vissem...” – Leone levou a mão ao bolso da calça por um instante e puxou algo, que ele estendeu na direção de David como se quisesse lhe entregar algo, mesmo sem ter certeza do que era, David fez o mesmo gesto e então Leone abriu a mão deixando um cristal azul escuro cair na palma da mão de David.

– “Eu sei que ainda é cedo para perguntar, mas eu vou direto ao ponto.” – Leone fez uma pequena pausa para chamar a atenção de David. – “Isso é o que eu estou pensando?”

– “Sim.” – David respondeu olhando para o cristal.

– “Quase não acredito que as histórias que o Antony contava eram verdadeiras. Onde a encontrou?” – Perguntou o rapaz preocupado.

– “Estava soterrada no campo de batalha, eu apenas vi um brilho no chão e quando eu me dei conta, era ela.” – Explicou David, mesmo que ele não parecesse dar créditos a própria história, Leone sabia que era verdade.

– “No chão? Fácil assim?” – Perguntou Leone surpreso com o relato.

– “Eu não sei de onde ela veio ou se estava ali o tempo todo, mas foi ali que eu a encontrei.” – explicou David.

– “Entendo... David, eu sei que não é uma boa hora para perguntar, mas o que vai fazer agora? O Mestre conseguiu ocultar parte dos boatos.”

– “Que boatos?” – David perguntou curioso.

– “Os boatos de um único soldado destruir um Q.G inimigo inteiro, isso não é algo que se veja todo o dia e é claro que escondemos a sua identidade e outros detalhes, mas ainda assim...” – Quando Leone viu o olhar pensativo no rosto de David, Leone logo interrompeu suas palavras e deixou o silêncio tomar o local. – “Desculpe.”

– Está tudo bem... Acho que ainda vou assimilar tudo isso... de repente tudo ficou muito confuso para mim.” – As palavras de David estavam carregadas de um sentimento de confusão, dúvida e culpa, mas algumas delas chamaram a atenção de Leone. – “Mas... eu não quero ficar parado.”

– “O que vai fazer?” – Leone perguntou com bastante curiosidade.

– “Se ele está vivo eu tenho que encontrá-lo, ele é a única família que me restou...” – Uma expressão de melancolia dessa vez veio ao rosto de Leone, ele que era amigo de David desde a infância, sabia que tipo de passado ele enfrentou e como ele era determinado quando botava algo na cabeça. – “Eu já decidi, eu vou partir para procura-lo.”

– “Vai procurar o Antony sozinho? O Mestre nunca vai deixar.” – Alertou Leone, – “Se sair assim, vai ser considerado um desertor.”

– “Não, diga apenas que vou viajar, ficar alguns dias fora. Enquanto isso vou aprender a usar a pedra do trovão e investigar um pouco.” – Disse o rapaz de forma decida.

– “Sem tempo pra ficar deprimido, não é?” – Leone já conhecia a personalidade de David e ouvir ele falar aquilo com esse tipo de determinação não lhe era nenhuma surpresa. Então ele apenas deu uma risada rápida e disse. – “Esse é o David que eu conheço. Quando pretende partir?”

– “Hoje, pode avisar ao mestre por mim?”

– “Claro.” – Confirmou Leone.

– “Mas antes, tenho que fazer alguns preparativos.” – Imediatamente David saltou da cama se pondo de pé cambaleando um ou dois passos para o lado, mas antes mesmo que Leone precisasse o ajudar ele se reequilibrou.

– “Eu estou bem.” – David tranquilizou Leone e começou a andar lentamente em direção a porta.

– “Para onde vai?”
– “Até a minha casa, vou partir antes de anoitecer.” – Explicou brevemente e saindo da enfermaria foi até sua simples casa que era um pouco mais afastada da cidade.

A capital da terra do norte não possuía muitos atrativos mesmo sendo grande e populosa. Ela parecia estar um pouco atrasada no tempo, possuía grandes construções novas e antigas por toda parte, as ruas  eram de pedras lisas e durante o dia o comércio era quase sempre bem agitado, mas como conhecia bem a cidade David pegou todas as ruas menos movimentadas, já que em sua pressa ele saiu ainda com roupas hospitalares: uma camisa larga e uma calça que ia até os joelhos em uma cor verde clara.

Em pouco mais de vinte minutos de caminhada o rapaz chegou em frente à sua casa, que era um tanto quanto simples: possuía uma fachada sem muros, apenas um pequeno gramado até a porta de madeira. David andou até chegar bem em frente a porta e colocou a mão em cima da moldura onde achou a chave reserva.

Quando a pegou, abriu a porta sem cerimônias e entrou em casa, viu a sala simples, com dois sofás próximos, uma estante com alguns retratos e um tapete no meio. Em cima da estante havia um rádio que David escutava sempre que tinha algum tempo livre, mas agora não era hora de ouvi-lo.

Foi até seu quarto logo que chegou e pegou uma mochila. David colocou tudo que achou que seria útil para sua viagem: um pouco de dinheiro que havia guardado, roupas e um mapa.

Após isso, ele se trocou rapidamente, após menos de meia hora David já estava pronto para partir, mas ao perceber isso, David voltou para a sala de estar e olhou uma última vez para os retratos de sua família, nunca houve tanto silêncio naquela casa como naquele momento.

Então, antes de partir, David soltou a sua mochila em cima do sofá e foi até a cozinha. David pegou todos os mantimentos que encontrou e preparou uma refeição para si mesmo. Não sabia o motivo, mas o rapaz pressentia que não voltaria logo, então aquilo lhe serviria de despedida do lugar que morou por toda a sua vida.

Sozinho em uma mesa que cabiam seis, David fez sua refeição, lavou os utensílios que usou e saiu de casa. Trancou a porta, colocou a chave reserva em seu bolso e iniciou sua caminhada até a saída da cidade que era basicamente uma rua que dava em uma estrada onde David iria seguir sem rumo certo.

Mas logo que chegou ali, encontrou uma moça de curtos cabelos ruivos que passavam apenas um pouco dos ombros, um pouco mais baixa que Leone que estava ao seu lado, porém ainda um pouco mais alta do que David, aparentava ter por volta de 16 anos de idadee tinha um olhar entristecido no rosto.

– “Oi Sarah.” – David cumprimentou a jovem.

– “Oi...” – Ela respondeu com uma vou um pouco grave. – “Você realmente vai sair da cidade? Nunca foi mais longe que as montanhas” – disse Sarah com uma expressão levemente preocupada.

– “Sim, isso é algo que eu tenho que fazer.” – David fez uma pausa e em seguida fez uma pergunta a Leone – “e então, o que o mestre disse?”

– “Ele disse: “não me importo, deixe ele fazer o que quiser”. – Respondeu Leone tentando imitar a voz do mestre.

– “Tsc!” - Cuspiu David – “Aquele cara nunca muda, mas é melhor eu ir logo antes que ele mude de ideia.” – um grande silêncio se fez entre os três naquele momento, afinal essa era uma amizade de muitos anos, eles nunca passaram mais de um dia sem se verem e agora iriam se separar por tempo indeterminado.

– “É melhor você voltar logo e não se perder no caminho. “– disse Leone.

– “Não se preocupe, eu tenho um mapa comigo.” – Respondeu David tentando tranquilizar o amigo.

– “Para onde você vai primeiro?” – Sarah perguntou.

“Oeste! A capital lá é grande, posso conseguir algumas informações.” – Respondeu David.

“Entendo.” – Em um gesto um tanto quanto inesperado e surpreendente, Sarah se aproximou de David e lhe deu um abraço. Não foi algo esperado por David, então ele não ofereceu resistência, Sarah desde de sempre viu David como um irmão mais novo.

“Não demore muito para dar notícias.” – Disse Sarah seriamente enquanto se separava de David e o olhava no rosto por uma última vez. Ela o impediria de ir se pudesse, mas ela dificilmente o convencia a fazer suas vontades.

– “E mande algumas cartas, se não o Leone pode chorar de saudade.” – A jovem brincou com um sorriso contido.

 – “Sim... o que!?” – Leone confirmou sem pensar e depois se corrigiu rapidamente com uma expressão confusa.

– “Brincadeira.” – Disse a garota com um sorriso no rosto. Após aquilo os três se encararam por um tempo e logo acabaram rindo.

– “Eu vou sentir saudades de vocês, mas não é um adeus. Prometo que dou notícias e volto quando puder!” – Disse David, então os três ergueram seus punhos pra frente e os tocaram realizando o comprimento que sempre fizeram desde a infância.

– Bem, até algum dia.” – Disse David enquanto afastava o punho e iniciava sua caminhada estrada acima, mas antes de dar mais de cinco passos ele escutou voz de Sarah o chamando.

– “Espere David!” – Disse a garota enquanto corria em sua direção. David então se virou e a viu parar bem a sua frente.

– “o que foi?”

– “Me deixe ver a sua pedra.” – Pediu a garota, David se surpreendeu em ver que ela sabia daquilo e logo assumiu que Leone havia contado, mas sem motivos para duvidar ele a tirou do bolso e mostrou. A jovem fez um olhar de desaprovação e fez um comentário:

– “Eu sabia que estaria em um lugar despreocupado como esse.” – Após dizer essas palavras, Sarah pega a pedra da mão de David e colocou em um estranho emaranhado de linhas de barbante e com alguns hábeis movimentos se tornou uma pedra de pingente preso a um colar que logo em seguida Sarah colocou em seu pescoço.

– “Pronto, assim chamará um pouco menos de atenção, mas tenha cuidado, isso é algo muito importante.”

– “Claro.” – Respondeu com um sorriso contido dando um último aceno de despedida com um sorriso no rosto e indo em direção à próxima terra.

Se pudessem, Sarah e Leone haveriam partido com David em sua jornada, porém ambos eram Slayers também e tinham funções importantes a cumprir agora que os Slayers do norte estavam tão fragilizados.

Saído desta terra uma nova lenda estava prestes a nascer, mas o caminho é longo e cheio de dificuldades pela frente. E tudo o que se sabe sobre o seu futuro é que apenas o desconhecido o aguarda.









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